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Paragem...

por Catarina d´Oliveira, em 22.11.15

Por vezes é necessário admitir a necessidade de parar. Parar para reavaliar, parar para ganhar forças, parar para perceber se vale a pena.

 

Há algum tempo que tenho lutado contra a desmotivação generalizada para os meus blogs, a quem tanto dei e que tanto me deram, num momento em que não consigo sentir verdadeiramente o que estou a fazer. E por não conseguir sentir, não consigo mantê-los só porque sim, porque sem serem verdadeiros, nada vale a pena.

 

Talvez um dia volte, e talvez um dia voltem a fazer parte de mim.

 

 

 

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Cartas para Estranhos #17

por Catarina d´Oliveira, em 05.11.15

Não é sempre fácil, sorrir. Há dias em que pode ser a coisa mais difícil, e há dias em que pode ser e é uma espécie de tarefa. Mas sorrir não é só uma contração de músculos. Sorrir é uma filosofia. Assim como viver.

 

 

 

"Querido/a Estranho/a,

Há tantas pessoas no mundo que acordam com um olhar carregado e a alma afogada... e talvez isso aconteça porque se esqueceram de como se sorri, e talvez tu sejas uma dessas pessoas.

Vês o mundo por tudo o que ele é, e por tudo o que não é. O que deves fazer é escolher ver o mundo da forma que desejas que ele seja para que cada dia represente uma nova aventura.

Tenta passar a acordar com um sorriso, mantém um espírito positivo, torna os teus sonhos realidade. Faz aquilo que te faz feliz e pratica uma boa ação - deixa uma notinha positiva ou ajuda alguém a atravessar a estrada; é fácil fazer algo pequeno que tenha um grande significado.

Acima de tudo, nunca te esqueças de quem és, e não tentes ser outra pessoa. Não estás sozinho/a. Há tantas pessoas que mudam e se esforçam tanto para serem o que os outros querem... ÚNICO/A - é o que tu és. Por isso tenho um objetivo para ti e para hoje: faz um amigo novo e mostra-lhe o que realmente és - prometo que vais surpreender-te.

 

 

De uma estranha que se preocupa contigo"

 

 

 

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Conversa Amiga #10

por Catarina d´Oliveira, em 03.11.15

Quero começar este post a afirmar com todas as certezas de que esta foi a melhor e mais inspiradora saída que fiz, desde que faço parte da família da ACA. Não sei se foi o simples facto de precisar desesperadamente de uma noite assim, aliado ao facto de ela efetivamente surgir ou se apenas estava destinado que assim fosse.

 

Os grupos sofreram pequenas alterações, e com elas voltei a Arroios, que já começo a considerar mesmo como uma segunda casa. Por lá sinto-me bem e sinto-me sobretudo a começar a fazer parte do quotidiano daquelas pessoas. Por lá sinto também que posso, aos bocadinhos, começar a cumprir melhor a missão a que me propus quando iniciei esta aventura.

 

Por a natureza da zona ser bicuda - em termos de organização espacial dos vários pontos que temos de cobrir em cada noite - resolvemos otimizar resultados e dividir-nos em dois subgrupos que atuaram isoladamente. Assim, segui caminho pela igreja e o jardim com dois colegas que gosto muito, mas sobretudo, que admiro todos os dias.

 

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Começamos por encontrar o S. que parece andar numa onda de azar. Depois de ter partido a perna há uns meses, ganhou uma infeção no olho no trabalho, há uns dias. A vista já aparentava melhoras mas dava sinais de dias de luta contra ventos e pestanas indesejadas. Mas nem por isso ele perde a boa disposição - lá contou, como sempre, de forma viva e alegre como tudo aconteceu e como nem a pouca sorte lhe tirou a vontade de continuar a trabalhar. "Mas olha por falar em ver... e o L. que me viu pela primeira vez? Ai o gajo nem 'tava a ver quem eu era mas depois ficou todo contente!".

 

Pois é, entretanto o S. lá deixou o seu episódio azarento para passar às boas notícias. O L. estava praticamente cego, mas lá cedeu aos cuidados médicos e agora já começa a recuperar o tacto com o que se passa à sua volta. A boa notícia, ainda a noite mal tinha começado, agoirava boas energias.

 

Pela igreja não nos alongamos, porque as nossas colegas lá passariam mais tarde, mas não deixámos de dar um caloroso beijinho de boa-noite à habitué E., ao T. que até estava mais bem disposto e deitado, bem refastelado e a jantar, o famoso "Trinitá", como é conhecido entre nós. Diz-me o meu colega Vasco que em anos de voluntariado nunca o viu de pé senão uma vez muito recentemente - mas ele lá está, estendido mas bem disposto, sempre disponível a uma palavra simpática ainda que resignado à preferência da existência na horizontal.

 

Chegamos ao jardim já perto das 21.30 e por lá cruzamo-nos pela primeira vez com o S., essa icónica figura do Jardim Constantino que nunca encontramos sem a guitarra.Na bagagem traz o abandono de Cabo Verde para uma aventura promissora na Europa que se traduziu em  vários anos de experiência numa companhia de bailado e de teatro. Por sequências e consequências pelas quais não atalhámos, esse caminho transformou-se num beco fechado, e hoje dedica-se a biscates para sobreviver e ajudar o irmão com as contas em casa, enquanto à noite se dedica à guitarra - "pratico pelo menos quatro horas por dia; temos sempre de nos manter ativos, senão não vamos aprendendo".

 

Com ele há sempre energia positiva no ar, um sorriso e conversa que dá para noites que nunca terminam. Hoje falamos de muita coisa mas sobretudo da vida. Da vida na dinâmica da rua e da vida no geral. "Há que tentar encontrar um equilíbrio porque os recursos estão muito mal distribuídos. 20% das pessoas têm demasiado e 80% andam a lutar pelos restos. Não está certo, manos". Foi neste seguimento que falamos do caso do V. que há poucos dias foi internado depois de um surto depressivo profundo.

 

"Ele andava bem e trabalhar... mas depois começaram a acontecer coisas más; deixou a medicação, perdeu o trabalho e às tantas já nos estava a afastar a nós. E isto também me obrigou a fazer um exercício de amizade - até onde posso ir eu, ajudando-te, sem que te esteja já a prejudicar o teu desenvolvimento e até o meu? É difícil de traçar uma linha... mas estamos sempre a aprender". E sem dar grande conta estavamos ali a discutir temas fraturantes como as disparidades sociais e relacionais, as filosofias de Platão, sabedorias que só podem nascer com vivências e de vivências que só se podem medir com sofrimentos e alegrias.

 

Com o S. é fácil perder a noção do tempo e do espaço e de ficar embriagado em ideias que deveriam mudar o mundo... mas lá tivemos de seguir caminho, e ele ficou na companhia da guitarra, na exata posição em que o encontramos.

 

Por ali perto abordamos mais dois indivíduos, ambos ucranianos de origem, mas que já aprenderam há muito a julgar Portugal como a sua casa. O V., mais velho e necessitado, via-se com um enorme gesso na perna direita enquanto que a esquerda também não estava particularmente forte. Era acompanhado por uma associação, mas por não conseguir deslocar-se por tragos maiores do que 10-15 m, há vários meses que segue sem apoio. Neste momento, encontramo-lo desiludido com promessas que não se cumpriram, e auxílios que não se concretizaram. Com as únicas armas que temos todas as noites - o chá e a conversa - convencêmo-lo a deixar-nos ajudar e sinalizamos o seu caso. Procura quarto, apoio de deslocação e, no fundo, qualquer tipo de ajuda seria bem-vinda. Não vamos descansar enquanto não conseguirmos fazer algo... No final, suplantando a desconfiança inicial, o V. só nos deixou gratidão imensa.

 

Do outro lado estava o A., que também sinalizamos. Depois de se separar da namorada saiu de casa com pouco ou nada, mas também não é disso que se queixa. "Estou bem aqui, e sozinho. Podia estar num quarto, mas estou bem aqui". É uma das coisas novas que descobrimos na rua, que muitas vezes temos de abrir horizontes além do que julgavamos possível... no entanto pediu-nos ajuda para regularizar situações relativas a documentação. Mais uma vez, e prestando o tipo de ajuda que no momento nos é possível (anotando as informações do caso e passando-as à base da assistência social), agradece-nos também, exaltando que tudo o que é mais importante na vida é ter bom coração. Despedimo-nos com um abraço e uma promessa, não de resolução, mas de tentativa absoluta de agilizar os processos.

 

Perto do jardim encontramos também o habitual L., que desde que teve um grave problema na perna esquerda nunca mais foi o mesmo. Meio adormecido, recebeu-nos, à primeira, com cara de poucos amigos, mas quando estavamos prestes a deixá-lo descansar e seguir caminho voltou a aparecer o S., o homem boa-onda que salva Arroios com um sorriso. Com meia dúzia de articulações brincalhonas pôs o L. a rir e numa boa disposição instantânea, e foi talvez aí que melhor percebi a sua importância para o equilíbrio frágil da zona. De facto, é só aparecer e tudo muda, e fica mais esperançoso, e mais otimista.

 

Deixamos o L. ao descanso que bem merecia depois de mais um dia duro, e voltamos ao jardim. Como um grupo de bons amigos e não de voluntários/público-alvo, sentamo-nos num banco a conversar sobre tudo e sobre nada enquanto iamos passando a guitarra entre nós - ninguém bate o S.; o tipo é craque do infinito no limite das seis cordas, mas não me fiz tímida e lá arranhei também eu uns acordes, como ele pediu.

 

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"Estava a pensar sobre o que falámos há bocado e há tempos uma amiga minha estrangeira disse-me que leu por aí na internet que estavam a haver umas perturbações no cosmos que estavam a trazer negatividade para o mundo... Se calhar foi isso que temos sentido nestes meses". Por alguma razão aquilo fez-me sentido - ou mais uma vez, quis que fizesse sentido. "Ei... e ela não te disse quando é que isso ia acabar não?" - perguntei. "Acho que está quase... era coisa de 4 ou 5 meses... E depois de uma onda negativa vem sempre algo melhor. É a lei da vida".

 

Fiquei a pensar naquilo, e nos ciclos que atravessamos ao longo do caminho. Quando tudo parece absoluto e feliz, e quando tudo parece destruído e desesperado. Não consigo dizer do que se trata além da óbvia constatação de que é assim a vida... mas é assim para que a possamos sorver melhor. Porque só a dor e o sacrifício podem dar maior perspetiva e amplitude aos outros rasgos de felicidade. É preciso saber estar triste para saber ser feliz. É preciso absorver tudo - o bom e o mau - e não fugir.

 

É preciso viver. E se para ti, agora, viver está na parte mais difícil, por favor, aguenta.

 

O melhor ainda está para vir...

 

 

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Cartas para Estranhos #16

por Catarina d´Oliveira, em 29.10.15

Há dias em que tudo parece impossível, indefinido, longínquo e, no fundo, triste. A única salvação possível é sempre a mesma: agarrar um sorriso - qualquer um - e deixar que ele nos leve para o dia de amanhã que será, certamente, muito melhor...

 

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"Hello Stranger,

Espero encontrar-te bem e disposto/a a um pequeno desafio, porque tenho um para ti; estás pronto/a?

Hoje desafio-te a sorrir. Não importa a razão. Sorri apenas. Podes sorrir perante algo aparentemente insignificante, como o som de uma lata de Coca-Cola a abrir, ou pode ser algo com maior significado como a gargalhada de alguém que amas.

Seja qual for a razão que arranjes, um sorriso vai melhorar o teu dia; tens a minha promessa.

Se, por algum motivo, não conseguires lembrar-te ou arranjar uma razão para sorrir, vou dar-te uma MUITO BOA:


ESTÁS AQUI E ESTÁS VIVO/A!


E estás aqui por alguma razão, por isso sorri. Segue o teu caminho e avança com um sorriso mais rasgado que o gato de Cheshire. Tem um dia fantástico!


De outra estranha como tu."

 

 

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Inspiração - Into the Wild

por Catarina d´Oliveira, em 27.10.15

 

Into the Wild é baseado na história verdadeira de Christopher McCandless, um americano recentemente saído da Universidade e com um brilhante futuro à sua frente. Aos 22 anos, ele opta por prescindir da sua vida privilegiada e partir em busca de aventura. O que lhe acontece durante este percurso transforma este vagabundo num símbolo de resistência para inúmeras pessoas. Era Christopher McCandless um aventureiro heróico ou um idealista ingénuo, um Thoreau rebelde dos anos 90 ou mais um filho americano perdido, uma pessoa que tudo arriscava ou uma trágica figura que lutava com o precário balanço entre homem e natureza?

 

Estas são questões que nos surgem, durante e depois do visionamento, mas às quais Sean Penn, que escreveu e realizou com uma precisão e graça magníficas, não nos dá resposta. O propósito nunca é julgar o protagonista, e talvez seja por isso que Into the Wild parece uma história tão honesta quanto crua.

 

É um filme de contradições, e apesar de o realizador simpatizar claramente com o protagonista, não pretende divinizá-lo. E Into the Wild é muitas coisas ao mesmo tempo: um entusiástico diário de bordo que passou por locais majestosos,  uma história de bravura, uma autodescoberta inspiradora, uma história devastadora de solidão e morte e ainda uma meditação sobre o significado do amor e da vida. Escapando ao materialismo, consumismo e a uma vida familiar profundamente infeliz, Chris renasce, passa pela adolescência e derradeiramente, enquanto busca a verdade que julga mais honesta, tem a sua lição de sabedoria. E nós temos mais que muitas.

 

Juntos exploramos o fascínio pela vida selvagem, o seu estatuto de pureza enquanto lugar livre das maldades da sociedade humana, mas também um espaço impiedoso e maior do que nós.

 

Juntos elaboramos sobre a nossa incessante necessidade de reinvenção, porque a viagem de McCandless é sobretudo um veículo de auto-descoberta e de emancipação humana.

 

Juntos meditamos sobre medidas de arrogância, inocência e ignorância, fatores soberanos do destino infortuno do jovem aventureiro.

 

Juntos estudamos a influência da sorte e da circunstância que tantas vezes moldaram o caminho de McCandless de uma forma diferente daquela que tinha planeado, levando-o a outros lugares e sobretudo propiciando o contacto com outras pessoas que viriam a ser marcadas por ele, e ele marcado por elas.

 

Juntos adquirimos a noção de que nos deixamos submergir no materialismo que tantas vezes nos tolda das verdadeiras experiências humanas que temos à nossa frente.

 

Juntos examinamos o idealismo que toma forma a partir de experiências e eventos específicos que ocorrem ao longo da nossa vida - no caso de McCandless, é muito alimentado por autores que estudou antes e durante a sua viagem.

 

Juntos caminhamos pela linha entre o isolamento e a intimidade, enquanto observamos McCandless a tentar isolar-se do mundo mas a cada passo pelo caminho a forjar relações profundamente íntimas com todos aqueles com quem se cruza pelo caminho (eventualmente, no final, percebe a necessidade do contacto humano e da ligação e partilha com os outros).

 

Juntos indagamos sobre a indefinição eterna da identidade, pois compreendemos com o exemplo de McCandless (que foi alvo de um estudo imersivo e intensivo por parte do autor Jon Krakauer) a nossa incapacidade inerente de conhecer totalmente outra pessoa.

 

Juntos descobrimos a importância do perdão e o perigo inerente de não o conseguir fazer, à medida que o ressentimento de McCandless em relação aos pais se torna uma questão cada vez mais fraturante em todos os panoramas da sua vida.

 

Juntos procuramos o significado da liberdade derradeira e a sua natureza utópica que parece requerer um total estado de isolamento.

 

No final de contas, Sean Penn traz-nos uma poderosa odisseia, uma ode a uma relação de amor tempestuosa com a natureza e à capacidade de salvação. A libertação de Alexander Supertramp no autocarro mágico tem uma pureza que assombrará todos aqueles que se arriscarem a percorrer esta viagem.

 

Conforme vemos o seu destino desenrolar-se, perguntamo-nos se estamos perante uma história de coragem ou de um egocentrismo egoísta. A resposta, contudo é apenas uma, e bem mais simples: sim, este é mesmo um filme inesquecível.

 

  

"Happiness (is) only real when shared

 

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Conversa Amiga #9

por Catarina d´Oliveira, em 26.10.15

Nunca gostei particularmente do número 9 e talvez por isso a minha nona saída para conversar não tenha sido tão boa como as outras. Ou talvez tenha sido por causa do tempo que só convidava a ficar em casa com uma manta a ver filmes. Ou, provavelmente, nada disto está relacionado e a minha noite - e o meu dia - foram menos bons porque tiveram de ser.

 

No entanto, não deixei de fazer o que sentia que devia, e saí de casa rumo à sessão.

 

Hoje não faltavam pessoas, mas faltava-me alguma alma, razão pela qual me tenha restringido à segurança de caras que já conheço relativamente.

 

Comecei por encontrar o senhor M. que parecia compactuar comigo nesta coisa das energias negativas do universo. Ele que anda sempre de sorriso de orelha em orelha e uma piada na ponta da língua, estava hoje mais retraído, com meios sorrisos e respostas menos espirituosas. Disse-me que estava mais ou menos, e respondi-lhe de volta com a honestidade que tinha que também não estava nos meus dias. A conversa não foi, de todo, longa, mas trocamos um enorme abraço que valeu por todas as palavras que ficaram por dizer.

 

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O resto da noite - além de uma pequena intervenção numa mini-zaragata que se deu por meros mal-entendidos, como de costume - passei-a com o bom e velho Mateus, também ele sintomaticamente diferente do que sempre o conheci. Pela primeira vez não entupiu o discurso de rimas e cantigas - apesar de as ter entoado, ocasionalmente - mas falou-me com a alma. Relembrou os tempos felizes com as gentes do teatro, mas foi a melancolia de um passado mais feliz do que o presente inseguro que dominou o resto da conversa.

 

Ficámos ali tempos e tempos, a refletir sobre o contraste entre os momentos de felicidade mais pura e o ar cortante da derrota ou esquecimento de outras glórias.

 

Senti que partilhei humanidade nesta noite, mas também tenho a certeza que não fui capaz de lhes dar o melhor de mim. Fica a promessa do regresso na próxima saída.

 

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Ajudar é fácil #1

por Catarina d´Oliveira, em 19.10.15

A Associação Conversa Amiga está a levar a cabo uma campanha de crowdfunding para o projeto Cacifos Solidários - basicamente, uma pequena infraestrutura que permitirá que as pessoas em situação de sem-abrigo possam guardar os seus pertences de forma segura.

 

Para ajudar a ter uma ideia mais concreta do que trata este projeto, podem atentar também na reportagem da RTP sobre a implementação do primeiro grupo de cacifos em Arroios.

 

 

 

Não podia ser mais fácil ajudar e para o fazer basta clicar na imagem - abaixo, mais informações sobre o projeto.

 

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Sobre o projeto...

 

O projeto Cacifos Solidários (CS) da ACA surge da conversa com pessoas em situação de sem-abrigo que nos identificaram como problema diário nas suas vidas, a incapacidade de guardarem e protegerem os seus pertences. Assim nasce esta solução, o projeto CS, que permite a estas pessoas guardarem os seus pertences de forma segura e digna, ao mesmo tempo que lhes restitui um nível de responsabilização, empoderamento e permite acompanhamento psicossocial!

 

Cada pessoa tem um cacifo com a sua chave e é responsável por este.

 

Paralelamente à sua utilidade prática, o projeto pressupõe um acompanhamento realizado por uma equipa profissional, facilitando a relação com os serviços sociais. Ou seja, um “degrau” entre a rua e uma vida fora desta.

 

Este é um projeto único no mundo e em 2013 a ACA lançou um piloto para teste que se revelou um sucesso. Já despertou interesse nos EUA e em França estando a ser replicado neste último país. Agora o nosso objetivo são mais 36 CS em Lisboa criando uma rede total de 48 CS.

 

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Conversa Amiga #8

por Catarina d´Oliveira, em 15.10.15

Já lá vão quase três semanas desta saída que relato (por atrasos e preguiças várias), pelo que tentarei descrever tudo o que se passou com o máximo pormenor possível.

 

Cheguei à Associação para a reunião de equipa a meio gás. Não me sentia nos meus dias, mas achei que podia procurar ali o boost de que andava a precisar há tantos dias. Não acontece muitas vezes, mas felizmente nesta ocasião, tive razão.

 

Por lá dedicamo-nos a um curioso exercício de team building onde tínhamos 10 minutos para conversar com dois colegas ao acaso e depois, perante todos, exaltar-lhes duas qualidades que tenhamos captado. Tive sorte em poder trocar dois dedos de conversa com pessoas maravilhosas - a V., mais recatada mas totalmente entregue àquilo em que acredita e ao bem que semeia, e a M. que fiz questão de destacar como "uma pessoa de pessoas", que tem tanto lá dentro que só nos apetece sorver tudo.

 

Sentia-me melhor só por isso, e por saber que, além de colegas, estou entre um grupo de pessoas profundamente humanas, com qualidades e defeitos, mas absolutamente apostadas em dar o melhor de si aos outros e a recolher também os frutos dessa troca. Apesar de os encontros ainda terem sido poucos sinto realmente que tenho ali companheiros, parceiros e sobretudo amigos.

 

À saída, tive o meu segundo impulso - mas sobre este inesperado e feliz acontecimento já vos falei aqui.

 

Seguimos depois até à nossa segunda casa, o Oriente, para mais um serão de conversa. Hoje a estação estava particularmente vazia, o que nos pareceu estranho mas apenas até ao momento em que ouvimos falar de uma reunião/festa que acontecia algures em Vila Franca, e onde muitos dos nossos habituais parceiros de conversa se tinham deslocado.

 

Foi por isso uma noite calma, de pouco alarido, mas de encontros alegres.

 

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Com o senhor J.B. passei a maior parte da noite, e juntos percorremos tudo. É serralheiro, mas no fundo também um faz-tudo. Como a tantos outros, o álcool deixou sequelas, mas nunca desistiu de as combater. Já esteve integrado numa associação de recuperação e era por lá tido como uma referência. Olhavam-no com a admiração de um herói e com a esperança de uma recuperação.

 

Por quezílias que nada tinham a ver com o problema que lá o levou em primeiro lugar, abandonou esse ambiente de segurança, mas prometeu-me que queria voltar por estar farto de deambular sozinho, pela inquietude de alguém que não baixa os braços, e pela crença em si mesmo que mesmo na maior dificuldade, alguma vez deixou de ter.

 

Separou-se da mulher mas deu-lhe tudo, porque acha que tudo o que conseguiu na vida deve transmitir àqueles que ama verdadeiramente. E assim vive ela com a filha, numa casa modesta mas bem composta, de que o J.B. abdicou um dia e voltaria a abdicar em qualquer outro. Foi por esta altura que me confessou que gostava de cantar, e que me mostrou com orgulho uma fotografia amarrotada que traz sempre na carteira. O pai era fadista e famoso no circuito lisboeta. Não se davam particularmente bem, mas às vezes o amor e o orgulho são maiores do que tudo, e o J.B. lembrou-me disso quando começou a falar dele sem parar.

 

A noite fez-se sobretudo desta enorme conversa de vida e de vidas, mas não me vim embora sem um último presente - neste caso, um acaso feliz por forma de um reencontro. Lembram-se do Mateus? Reencontrei-o. E depois de algumas tentativas de o recordar do nosso primeiro encontro, consegui lá chegar. E foi uma alegria. Recebi um segundo abraço ainda mais apertado.

 

Estava bem disposto, com um fato impecável e carregado das rimas e das cantigas de que me lembrava tão bem.

 

E bastou isto para vir para casa a pensar como tudo isto vale mesmo a pena.

 

 

 

 

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Do dia em que quem recebeu uma carta... fui eu!

por Catarina d´Oliveira, em 07.10.15

Por vezes, é difícil perceber em que medida é que aquilo que fazemos acaba por afetar os outros - seja no ato mais grandioso ou no mais humilde, ou seja no espírito mais positivo ou mais negativo. Há, no entanto, uma série de sinais, de confirmações e de afirmações que vamos recebendo pelo caminho que nos vão assegurando por onde seguir. Linhas que nos guiam, forças que nos apoiam, vozes que nos confortam.

 

Foi quando passava mais um dos meus inescapáveis momentos de diminuição de fé humana que tive mais uma prova resoluta daquilo que devo fazer e continuar a procurar. Quando passei por mais um momento de dúvida, alguém que nada tem de invisível mas apenas um pouco de desconhecido esteve lá para dar-me a mão e relembrar-me de tudo o que vale a pena.

 

Foi nesse dia, em mais uma ação de voluntariado de sábado à noite, que foi a minha vez de receber uma carta.

 

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Olá,

 

Sim, esta carta é para ti tal como as que deixas para outros.

 

Desculpa, escrevo na máquina de escrever deste século, mas é que perdi a confiança na escrita "à mão" tal como perdi a confiança no desenho "à mão" que já foi a minha arte. Mas é só uma questão de forma, o importante é, claro, o conteúdo! Além de que tenho péssima letra :)

 

Tenho uma admiração por ti, pela tua liberdade de estar na vida. É preciso ter coragem (muita) para se viver assim. Quero que saibas que acho que é assim que se vive. Seja lá o que te digam ou que já disseram ou venham a dizer. Nascemos livres, cheios de bons sentimentos que podem navegar muito além deste "calhau" que está algures no Universo. Parece que, de alguma forma, vamos perdendo isso e vence a "necessidade" de sermos menos livres, menos sinceros e termos menos bons sentimentos. Ou seja, sermos menos.

 

Há mais pessoas como tu. É isso que quero que saibas. Não estás sozinha, não és inadaptada ou "de outro planeta". Este é o teu (nosso) planeta que demorou milhões de anos para se formar até poder receber pessoas como tu. Agora é só limar este "calhau" até torná-lo num jardim.

Continua pois é isso que estás a fazer neste momento.

 

Um abraço deste teu pouco conhecido colega,

Eu

 

 

Não há nada mais que possa fazer ao colega que a escreveu - e que ainda não sei quem é mas que vou tentar descobrir a careca! :P - do que agradecer profundamente o humilde salvamento.

 

Mentira... há algo mais que posso fazer... continuar !

 

 

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Cartas para Estranhos #15

por Catarina d´Oliveira, em 22.09.15

É uma estranha luta, a de levarmos esta vida que, no fundo começa e termina da mesma forma: com a solidão. Faz parte da nossa missão procurar a nossa felicidade todos os dias, mas também fazer com que esses sejam os únicos momentos em que estamos sozinhos.

 

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"Querido/a estranho/a,

Independentemente de como te está a correr este dia ou esta semana, sei que vão haver momentos na tua vida em que vais sentir-te sozinho/a. Todos os temos, com manifestações mais ou menos dramáticas, mas ainda assim, a verdade é que estamos nisto juntos. Quer queiramos que não, estamos todos ligados, e todos passamos por emoções semelhantes, apenas em contextos diferentes... então estamos todos a tentar navegar por este mundo, e esta vida, enquanto tentamos sobreviver ao quotidiano e procurar a felicidade. E para isso precisamos uns dos outros.

Lembra-te disto, porque há um poder e conforto inexplicáveis ao recordarmos isto.

Deixa que os outros estejam lá para ti. Pede ajuda. Entrega-te. E depois, deixa que façam o mesmo. É no momento em que deixamos de olhar para o chão e nos damos conta do que existe à nossa volta que temos uma verdadeira hipótese de sermos felizes.

 

Um abraço enorme de uma amiga que (ainda) não conheceste"

 

 

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